Direito dos Surdos – acesso a Educação igualitária

Não só os surdos, mas todas as pessoas com deficiências, tem direito a igualdade, e a não discriminação. Pensando nisso, a comissão dos Direitos das pessoas com Deficiência da OAB-GO preparou uma cartilha com todos os direitos que uma pessoa nesta condição devem exigir.

E hoje vamos falar, dos direitos a uma educação igualitária para uma criança com algum tipo de deficiência:

Direito à matrícula: As escolas devem recepcionar as crianças ou adolescentes, independentemente de qualquer situação ou condição. Caso não haja vaga disponível, após a instauração de procedimento adequado, o município arcará com a despesa de manter o aluno na rede particular de ensino.

Direito ao “Professor de Apoio”: É importante frisar que nem todos os alunos de inclusão necessitam desse profissional dada a sua autonomia, mas caso seja comprovada tal necessidade, como o caso dos surdos, que necessitam de um intérprete de Libras, a escola o providenciará sem custo adicional.

Imagem: Reprodução da Internet

Direito ao Currículo Adaptado: A escola deverá adaptar o conteúdo aplicado de acordo com a necessidade da deficiência, por exemplo, adequando trabalhos, atividades e provas de forma acessível, disponibilizando recurso de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequados, concedendo dilação de tempo para realização de provas, dentre outras possibilidades, em busca do melhor aproveitamento do aluno.

FIES – Financiamento Estudantil: Adquirindo deficiência incapacitante (invalidez), é direito da pessoa com deficiência ter o saldo devedor do FIES absorvido (quitado) pelo seguro obrigatório presente no financiamento, mesmo em contratos anteriores à Lei nº 11.552, de 19 de novembro de 2007.

Leia o primeiro post da série:

Surdos – Você conhece seus Direitos?

Promover a cidadania e contribuir para a participação plena e efetiva dessas pessoas com deficiência na sociedade, em igualdade de condições com as demais, é obrigação do poder público.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), aprovada em 2015, veio afastar barreiras e qualquer forma de discriminação. A deficiência agora, não afeta a plena capacidade civil da pessoa e não pode obstruir a acessibilidade e a trafegabilidade social.

E a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, com o objetivo de garantir que a sociedade acolha todas as diferenças, elaboraram uma cartilha chamada: Pessoa com Deficiência, Você conhece seus Direitos?

E é muito boa, e engloba todos os tipos de deficiência. E gostei tanto que me senti inspirado a fazer artigos aqui e adaptar para os surdos. Já temos o comando de lei. Agora, precisamos fazer com que estes direitos seja efetivados e implementados na vida de todos. E faremos isso, juntamente com os artigos que serão publicados. Mas antes de mais nada, que tal revisar alguns posts que já fizemos sobre o assunto?

No mais até breve, aguardo vocês para discutirmos mais a respeito não só de nossos direitos, mas também deveres.

Lojas Americanas e a Inclusão de PCDs

Assédio moral, humilhações constantes e tarefas inadequadas para as condições dos trabalhadores. O Ministério Público do Trabalho (MPT) entrou com um processo de R$ 11,3 milhões contra as Lojas Americanas por assédio moral e discriminação a pessoas com deficiência (PCDs) em uma unidade de Barueri, na região metropolitana de São Paulo.

As práticas mostram as consequências da falta de uma política adequada de inclusão e de diversidade, segundo especialista ouvida pela revista EXAME. Na ação, testemunhas contam que colegas e superiores hierárquicos os obrigavam a realizar tarefas não condizentes com sua situação e os assediavam moralmente. Uma das testemunhas afirmou que ele e outros PCDs não conseguiam realizar certas tarefas que eram impostas pelos superiores, por limitações físicas. Ao invés de serem mudados de função, eram chamados de “preguiçosos” por chefes e alguns viam as cobranças aumentarem ainda mais.

Outro trabalhador, que tinha surdez, contou que era comum que supervisores e colegas de trabalho gritassem com sarcasmo: “você é surdo? Não ouve não?”. Segundo a testemunha, esse tipo de assédio moral ocorreu com mais dois colegas com outras deficiências, constantemente. 

A empresa também teve casos de trabalhadores que foram colocados em funções diferentes daquelas para as quais haviam sido contratados, como forma de discriminação. Um deles, sem treinamento para a função e com deficiência nas pernas, tinha que descer plataformas de descarga sem a ajuda de escadas, o que acabou causando o agravamento de suas dores por telefone.

Os relatos foram recebidos pelo MPT de 2016 a 2018. Para a procuradora do Trabalho Damaris Salvioni, representante do MPT na ação, o assédio moral era organizacional, e não um fato isolado, e o objetivo seria fazer com que os trabalhadores pedissem demissão.

Diante dos diversos testemunhos, em 2018 o MPT ofereceu às Lojas Americanas um acordo (Termo de Ajustamento de Conduta – TAC) por meio do qual ela se comprometeria a evitar e refrear o assédio moral na organização. Entretanto, a empresa se recusou a assinar o documento.

Procurada por EXAME, a empresa afirmou que “ainda não foi notificada sobre a ação judicial em questão”. “A companhia afirma que o respeito entre seus associados está na base de sua cultura, e que repudia e pune com rigor qualquer prática de assédio moral, conforme disposto também em seu código de ética”, escreveu em nota.

Legislação e cultura

O caso mostra que, mesmo depois de quase 30 anos da Lei de Cotas para Pessoas Com Deficiência, muitas empresas ainda não incorporaram a inclusão em seus valores e cultura.

A lei determina que empresas com mais de 100 funcionários preencham uma parcela do quadro de funcionários com PCDs, de 2% a 5%. Segundo Ivone Santana, diretora executiva do Instituto Modo Parités, o Brasil tem uma das legislações mais avançadas em termos de inclusão de PCD. A Lei de Cotas começou a ser fiscalizada nos anos 2000, o que foi fundamental para que as empresas se mobilizem e estruturem bons programas, diz ela.

No entanto, cerca de metade dessas vagas não são preenchidas, por preconceito e desconhecimento de alguns gestores. “Esse caso da Lojas Americanas é um exemplo triste, mas recorrente, do que acontece quando uma empresa não incorpora valores de inclusão em sua cultura”, afirma Santana. 

“A nossa sociedade foi baseada em segregações por muito tempo, de raça, mulheres, pessoas LGBT e pessoas com deficiência. Até pouco tempo atrás, piadas com negros ou mulheres eram vistas como engraçadas. Até hoje tem empresa que não tem banheiro para mulheres. Muita coisa mudou, mas ainda existe um desconhecimento gigantesco de como implementar a inclusão acessibilidade”, explica a especialista.

Ou seja, não adianta simplesmente contratar PCDs, sem uma política adequada de inclusão. Para conversar com uma pessoa surda, por exemplo, é necessário estar de frente a ela, sem dar as costas. No caso de pessoas com mobilidade reduzida, o espaço de trabalho precisa ser acessível fisicamente. 

Não é uma tarefa simples, já que as deficiências podem ser físicas, intelectuais, visuais e auditivas, com uma pluralidade muito grande. Mas não é um problema sem solução. “Quando as empresas estão dispostas a aprender, a cultura muda”, diz Santana. “Temos visto transformações incríveis nas empresas. Às vezes começa em um setor e se espalha por toda a empresa. Mexe até no conceito de meritocracia, que era um consenso e está sendo revisto.

Além da questão moral, a inclusão também impulsiona os lucros da empresa. PCDs e suas famílias consomem cerca de 8 trilhões de dólares em todo mundo por ano. Além disso, a inclusão torna o ambiente mais diverso e agradável. 

“Quando as pessoas podem ser quem são numa empresa, o ambiente fica melhor, aumenta a eficiência dos funcionários e diminui o turnover. Isso se traduz no balanço das empresas também”, afirma. “As empresas que não olharem para a diversidade, não só com a inclusão de PCDs, mas de gênero, orientação sexual e de raça, não serão sustentáveis no longo prazo”, diz.

Notícias da Semana

A Língua de Sinais bombou na web na última semana de agosto, e virou notícia em todo o Brasil. Vamos a alguns fatos inclusivos da região norte e nordeste do país?

No Acre, a Secretaria de Educação, Cultura e Esportes (SEE), por meio do Centro de Atendimento ao Surdo (CAS) disponibiliza um serviço essencial a todos os surdos. Trata-se da Central de Interpretação de Libras (CIL), que realiza os mais diversos atendimentos.

A partir dela, o surdo pode agendar atendimento nos mais diversos órgãos públicos, como o Detran, audiências judiciais, consultórios médicos, matrícula nas escolas das redes estadual e municipais de ensino e até mesmo entrevistas de emprego. “Desde que o serviço seja público e gratuito pode ser agendado”, explica a coordenadora do CAS, Joana D’Arc Nascimento.

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Em Araguaína/TO, funcionários da área da saúde, compõem a nova turma do curso gratuito de Língua Brasileira de Sinais (Libras) oferecido pela Central de Interpretação de Libras (CIL). O curso acontece até o dia 25 de setembro, com aulas ministradas todas as quartas-feiras, na Secretaria Municipal da Assistência Social.

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O Instituto Federal de Sergipe (IFS) promove, no dia 16 de setembro, o 2º Encontro de Libras, dentro da programação da 7ª Semana Aracaju Acessível, idealizada pelo vereador Lucas Aribé. Segundo a proposta do tema “A Arte de Incluir”, o evento abordará o universo do surdo e sua relação com a cultura, o esporte, o turismo e o lazer, à luz do Capítulo IX da Lei Brasileira da Inclusão.

A programação inclui palestras, rodas de conversa e debates que visam ressaltar a importância da acessibilidade e inclusão em todas as áreas da sociedade. Serão palestrantes do Encontro de Libras o diretor-presidente do Centro de Surdos de Aracaju (Cesaju), Pablo Ramon Lima de Barros, e o professor substituto da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Geraldo Ferreira Filho.

O público-alvo do evento, que é gratuito, são surdos e ouvintes usuários de Libras, além de estudantes e outros interessados na Língua Brasileira de Sinais. As inscrições podem ser feitas no site do IFS.

Ver notícia completa:

Semana Aracaju Acessível: Encontro de Libras vai discutir papel do surdo na sociedade

Registros nas Mídias

Ninguém sabe o que você ouve, mas todo mundo ouve muito bem o que você fala.

Millor Fernandes

De maio pra cá, recebi dois convites maravilhosos de dois veículos de imprensa, que me enviaram perguntas num bate papo super divertido e emocionante, onde puder compartilhar fatos marcantes sobre minha surdez e criação do Blog. Ainda não tinha dito aqui, e hoje é dia de registrar e divulgar para todos vocês.

1 – Euariz. com

2 – Revista Ludovica – Jornal O Popular/ Grupo Jaime Câmara

Leia também:

A luta das mulheres por inclusão e acessibilidade na Argentina

Com o objetivo de tentar combater s obstáculos para a acessibilidade e ao mesmo tempo denunciar que a dupla discriminação que sofrem, em 2018, foi criado o grupo “Movimento de Surdas Feministas da Argentina” – Mosfa.

“Qual é nossa grande dificuldade? Bom, a acessibilidade. O empoderamento é impossível sem acessibilidade”, afirmou Tamara Cordovani, uma das fundadoras do movimento.

“Há opressão na rua, nas instituições, nos hospitais… e por sermos mulheres e surdas é ainda mais complexo”.

Longe de se vitimizar e com uma expressão determinada, a fundadora do movimento atacou os preconceitos com a língua de sinais: “Muitos pensam que uma pessoa surda, que tem como sua própria língua a língua de sinais, é inferior. É uma língua que faz com que as pessoas digam ‘ai, coitadinha’ e não lhe deem valor”, opinou.

Foto: Reprodução/ Divulgação

A violência de gênero pode afetar especialmente as mulheres surdas na hora de denunciarem seus agressores. “Há um grande sentimento de solidão, sofrimento, violência, quando uma pessoa surda quer fazer uma denúncia, ir a um hospital, ou à Justiça, a uma delegacia, não há um serviço de interpretação”.

María Victoria Perales, uma das intérpretes do Mosfa e também professora de crianças surdas, comentou a superação que a língua de sinais vem mostrando ao longo da sua história. “Durante muito tempo, a comunidade de surdos sofreu uma grande opressão linguística que fazia com que a língua de sinais não chegasse aos espaços acadêmicos, aos espaços de poder, aos espaços políticos, aos espaços de divulgação de conhecimentos”, concluiu a docente.

Libras na Ciência abre inscrições para curso pré-vestibular em LIBRAS

Com apoio da Habits-USP Leste e o Programa Escola da Família, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, projeto oferece 40 vagas para aulas ministradas em Língua de Sinais.

Prestes a começar o segundo semestre de 2019, estudantes surdos que pretendem prestar o ENEM 2019, a Fuvest 2020 e a longa maratona de provas de vestibular, terão a oportunidade de realizar a inscrição para o curso preparatório promovido pelo Projeto Libras na Ciência.

Em mais uma edição, a iniciativa comandada pelo mestre professor Rafael Dias Silva, que dedica sua atuação para a educação inclusiva de deficientes auditivos e adaptação dos conteúdos do currículo básicos da língua portuguesa para Libras, conta com apoio do Programa Escola da Família, integrado à Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Assim como nas cinco edições anteriores, o Habits-USP LESTE também atua como apoiador do projeto.

Com um total de 40 vagas, o processo de inscrição e seleção teve início nessa semana e apresenta encerramento marcado para 22 de julhoAs fichas devem ser enviadas exclusivamente pelos Correios e serão considerados alunos e ex-alunos de inclusão do sistema básico de Educação Pública e de escolas particulares.

Para participar, o interessado deve solicitar a ficha de inscrição através do e-mail: rafael.dias.silva@usp.br e enviar para o endereço: Rua Serra de Botucatu, 968 – Tatuapé – São Paulo (SP).

A divulgação dos candidatos selecionados por meio da página Libras na Ciência no Instagram e no Facebook (@librasnaciencia) no dia 26 de julho. Gratuito, a sexta edição do curso pré-vestibular é ministrado por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) na Zona Leste de São Paulo:

ESCOLA ESTADUAL PROFª BENEDITA RIBAS 
Endereço: Rua José Tavares Siqueira, 198 – Tatuapé (próximo à estação Carrão do Metrô)
Com início marcado para 03 de agosto, as aulas serão ministradas aos sábados, das 9h às 16h.

SERVIÇO: Curso pré-vestibular 100% em LIBRAS para estudantes surdos – Libras na Ciência
PERÍODO DE INSCRIÇÃO: 03/06 a 22/06
INÍCIO DAS AULAS: 03 de agosto
INSCRIÇÃO: pelos Correios, por meio de carta registrada, ou Sedex para: Prof Me RAFAEL DIAS SILVA (LIBRAS)
Endereço: Rua Serra de Botucatu, 968 – Tatuapé
CEP: 03317-000 – São Paulo (SP)

Via: https://www.abcdoabc.com.br/abc/noticia/libras-ciencia-abre-inscricoes-curso-pre-vestibular-libras-82720

Agradecimentos ao meu amigo Sebastião Galindo, de Presidente Prudente/SP

Filme: Libras É Merda?

O enredo do curta-metragem tem um quê de “sentido na pele”. Após maltratar um surdo, a protagonista se vê lançada, de uma hora para outra, num mundo onde todos só se comunicam pela língua de sinais. Ninguém fala. Ela acaba sendo presa pela polícia por engano e tenta explicar — em bom português — que não tem nada a ver com o crime do qual é acusada. Suas palavras, porém, não significam nada para os policiais. Os sinais que eles fazem com as mãos tampouco fazem sentido para ela. Percebendo-se um peixe fora d’água nesse mundo de surdos, e a personagem surta.

Filme “Libras É Merda?”: personagem ouvinte é transportada para realidade onde todos conhecem apenas a língua de sinais (imagem: Reprodução)

— Com essa inversão de papéis, transformando os surdos em maioria e os ouvintes em minoria, busco fazer a sociedade sentir o quão sofrida é a vida do surdo. Por não haver acessibilidade linguística, ele não compreende nem é compreendido — explica Johnnatan Albert, no filme Libras É Merda? que foi lançado em abril em Brasília, numa mostra de curtas-metragens produzidos por surdos, e deverá ser exibido em outros festivais pelo país.

O desconhecimento de idioma e a comunicação truncada dão as cartas no filme. Direção, roteiro, fotografia e operação de câmera a cargo de Johnnatan Albert.

O Boticário e a sua Beleza que Inclui

Boticário fala sobre a importância da inclusão e acessibilidade para seus funcionários e consumidores

Nos seus mais de 40 anos de história, O Boticário tem buscado alternativas para incluir pessoas com deficiência, de diferentes tipos e características, dentro e fora da empresa. A constante busca por soluções para que todos tenham acesso às experiências únicas é parte do jeito Boticário de abraçar e incluir a todos, mostrando que existe beleza, também nas diferenças.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de ¼ da população brasileira tem algum tipo de deficiência e 8% têm alguma deficiência severa. Antes mesmo da regulamentação da lei de inclusão, que entrou em vigor no país em 2015, O Boticário já contava com um time formado por colaboradores, força de vendas, institutos de pesquisas, além de pessoas com deficiência, para discutir e gerar soluções viáveis a partir de experiências e histórias reais. O Departamento Imersivo sobre Negócios Sociais do Grupo Boticário, em São José dos Pinhais (PR), é um fórum permanente para garantir a expansão dessas soluções. Ivan Kuhl, um dos colaboradores da empresa, que é deficiente visual, estimulou a companhia a desenvolver uma solução tecnológica específica para adaptá-lo ao trabalho no escritório corporativo. O profissional, que está no Grupo Boticário há cinco anos na área de Gestão de Patrocínios, consegue responder aos e-mails por meio de um software que lê e repassa por áudio as informações que aparecem no monitor. Além disso, a empresa sempre providenciou documentos com acessibilidade para ampliar o seu acesso aos conteúdos. “Participei de todos os processos na minha área e nunca fui tratado de forma diferente por ninguém na companhia. E com a minha vivência, também ajudo o Grupo em questões relacionadas ao tema, opinando sobre o que funciona ou não para pessoas com visão limitada”, completa.  

Seguindo o lema das pessoas com deficiência, “nada sobre nós, sem nós”, que significa que nenhum resultado a respeito das pessoas com deficiência deverá ser gerado sem a plena participação das próprias pessoas com deficiência, Ivan não só opina como também cria. À exemplo disso é o catálogo que os revendedores utilizam, totalmente acessível e com a curadoria do Ivan. Por meio de um QR Code, que ao ser escaneado, abre a versão online do catálogo, é feita a leitura dos textos e descrição de imagens repassando as informações através de áudio. “Coloquei a mão na massa e fomos observando junto com o time todos os pontos em que poderíamos melhorar o catálogo, afinal a venda direta também chega ao público deficiente e é importante que as revendedoras também tenham esse material”, completa Ivan. 
Na área de Pesquisa e Desenvolvimento de produtos, já existem inúmeras iniciativas relacionadas à acessibilidade, como por exemplo extensores, formas diferentes de aplicação dos produtos e tecnologias assistivas que facilitem a interação do consumidor com deficiência com os produtos do Boticário.  Desde a criação de um novo design, fórmulas, passando por tecnologias até os produtos chegarem nas lojas.  
Outras soluções como etiquetas sensoriais, que diferenciam as embalagens, também facilitam a experiência dentro de loja.  “É uma iniciativa importante que surgiu com a proximidade da marca no dia a dia das pessoas com deficiência. Notamos que eles marcavam os produtos com fita adesiva para conseguir diferenciá-los e identificamos que isso seria um recurso simples, mas efetivo para quem tem a visão reduzida”, comenta Alexandre Bouza, diretor de marketing da marca.   

De dentro para fora
Diversidade e inclusão começam dentro das lojas: todos os treinamentos feitos para as revendedoras e consultoras são pautados no respeito, empatia e amor ao próximo, prezando por sempre se colocar no lugar do outro na hora do atendimento. Isso incluí na didática pautas sobre Libras, clientes ocultos em todos os pontos de vendas do Brasil para avaliar se os atendimentos estão seguindo as orientações. 
Esse movimento não está restrito aos espaços físicos. O Boticário passou a utilizar nas legendas das fotos do Instagram e Fanpage da marca o recurso #paracegover onde há a descrição detalhada do que contém na imagem que ilustra o post, atualmente, inclusive, já alterou a mesma para #ParaTodosVerem, atingindo assim outros tipos de deficiência visual. No Youtube, por exemplo, os vídeos do canal Desejos de Make são divulgados com áudio-descrição, libras e por conta da enorme procura, foi criado, inclusive, um canal só para surdos e deficientes visuais, onde todos os vídeos são produzidos em libras e com áudio-descrição. O e-commerce da marca também conta com todos os recursos para uma melhor visualização e navegação. 
“Investimos em treinamentos e em soluções que levem cada vez mais experiências diferenciadas ao nosso público e que quebrem as barreiras de comunicação. Graças aos feedbacks que recebemos dos nossos colaboradores surdos, que participam ativamente dando opiniões sobre os conteúdos  que criamos, entendemos, por exemplo, que deveríamos substituir um avatar de tradução em libras pela tradução humanizada. Nas nossas lojas próprias temos o programa #todabeleza que objetiva promover o debate sobre a diversidade no varejo e contribuir para a ampliação do perfil da força de vendas, incluindo o estímulo à contratação de pessoas com deficiência para os postos de atendimento em lojas. Com isso, queremos estimular outras empresas a seguirem esse objetivo de serem cada vez mais inclusivas”, completa Bouza.  

Publicidade inclusiva 
Apesar dos avanços, a publicidade ainda peca quando o assunto é representatividade. Quando se trata de acessibilidade o problema é ainda maior. O Boticário trabalha para cada vez mais garantir a inclusão dessas pessoas em suas campanhas. Em um dos filmes mais recentes, de Nativa Spa Karité, por exemplo, o elenco contava com uma cadeirante e no de Dia das Mães, um menino com Síndrome de Down e no Natal de 2018 um menino surdo.     

Sobre O Boticário   O Boticário é uma empresa brasileira de cosméticos, unidade de negócios do Grupo Boticário. Inaugurada em 1977, em Curitiba (Paraná), a marca tem a maior rede franqueada de cosméticos do país com mais de 3.700 pontos de venda, em 1.750 cidades brasileiras, e mais de 900 franqueados. Presente em 15 países, há mais de 40 anos desenvolve produtos com tecnologia, qualidade e sofisticação – seu portfólio tem mais de 850 itens de perfumaria, maquiagem e cuidados pessoais.Comprometido com a beleza das pessoas e do planeta, O Boticário não realiza testes em animais e investe na melhoria contínua de produtos e processos para torná-los cada vez mais sustentáveis. O programa de logística reversa da marca, o Boti Recicla, é um dos maiores do país em pontos de coleta – em todas as lojas os consumidores podem devolver as embalagens vazias, que são encaminhadas para a reciclagem correta. Outro exemplo de cuidado em toda a cadeia é a fábrica de cosméticos de Camaçari (BA), a primeira do segmento a receber o certificado LEED de construção sustentável no Brasil

Os surdos destinados ao “Inferno da fala”

A confusão atordoa os olhos, braços giram qual moinhos de vento num furacão […] A regra era que todas as comunicações fossem orais. Nosso jargão de sinais, obviamente, era proibido. […] Mas aquela regra não podia ser imposta sem a presença dos funcionários da escola. O que estou descrevendo não é o modo como falávamos, e sim como conversávamos entre nós quando nenhuma pessoa ouvinte estava presente. Nesses momentos, nosso comportamento e nossa conversa eram muito diferentes. Relaxávamos as inibições, não usávamos máscara.”

Surdo aos oito anos, o menino David Wright escreveu sua rotina na Northampton School, uma escola especial da Inglaterra. “Uma das implacavelmente dedicadas, mas equivocadas, escolas ‘orais’, que se preocupam sobretudo em fazer os surdos falar como as outras crianças e que causaram muitos danos a indivíduos com surdez pré-linguística desde o princípio”, nas palavras do neurologista Oliver Sacks.

No livro “Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos”, Sacks conta como a proibição quase doentiamente feroz, “soberba”, à língua de sinais desenvolvida pelas próprias crianças surdas na escola retardava seu desenvolvimento. O objetivo das escolas era nobre: desenvolver aquelas crianças. O problema foi a imposição da ferramenta, com uma total cegueira para suas próprias capacidades: vocês precisam falar a nossa língua.

Foi de um abade, Charles-Michel de l’Epée, que veio uma transformação significativa: ele percebeu como os surdos pobres que vagavam por Paris se viravam bem usando uma língua de sinais nativa. E foi criando um sistema de sinais – uma combinação da língua de sinais nativa com a gramática francesa traduzida em sinais – e sua escola, fundada em 1755, permitiram pela primeira vez que alunos surdos lessem e escrevessem em francês e, assim, pudessem aprender.

Enquanto ensinar o surdo a falar exigia um professor dedicado a um único aluno, por muitos e muitos anos, e criava, na melhor das hipóteses, um analfabeto funcional, o abade conseguia educar alunos às centenas com seu método em pouco tempo.

A realidade foi mudando e a então linguagem de sinais podia ser aprendida rapidamente e restando tempo para a educação tradicional, permitindo que eles chegassem a um nível de instrução equiparável ao dos ouvintes. L’Epée tinha um objetivo prático: ele não tolerava a ideia de os surdos morrerem sem conseguir se confessar. E sua vitória veio do fato de, com base nesse propósito, encarar os surdos e a sua linguagem não com desprezo, mas com reverência.

A história, o progresso e a tecnologia chegaram. Existem até leis que nos ensinam e favorecem a inclusão dos surdos, e que hojepodemos aprendermos que os surdos podemos de fato devem sair do “inferno” solitário do mundo opressivo de ter que ouvir e falar.

Ainda assim, mas ainda há profissionais que insistem que os surdos devem falar e não serem felizes. Ainda há empresas que não seguem as leis e não garantem interpretes ou no mínimo dignidade para seus funcionários e clientes. Até quando nesse inferno?