Capitão Astúcia: o herói que não cabe em blockbuster

Capitão Astúcia rompe com o modelo tradicional de distribuição e chega gratuitamente à internet após 49 prêmios e exibições em TV, cinema, praças, escolas e comunidades.

Enquanto a Marvel lança mais um filme de supergrupo nas capitais, um outro tipo de herói se movimenta longe dos holofotes.

Falo do Capitão Astúcia, um filme independente, feito com criatividade, coragem e poucos recursos. Eles não tiveram milhões em investimento, nem efeitos especiais de última geração. Mas fizeram algo que muitas superproduções ainda se recusam a fazer: olhar para as margens.

Eles foram até o interior do interior do Brasil, onde nem cinema tem. Onde muita gente sequer teria a chance de assistir a um filme desses na telona. Levaram cultura com livros, rodas de conversa, debates e inclusão de verdade — não só no roteiro, mas na prática.

Enquanto grandes reis do cinema seguem enchendo os bolsos e reforçando exclusões, o Capitão Astúcia e sua equipe fizeram o oposto: deram protagonismo às minorias, olharam para os esquecidos, e mostraram que heróis também nascem longe da tela.

E isso, pra mim, vale muito mais do que qualquer bilheteria.
Capitão Astúcia é um longa-metragem independente que mês passado estava em cartaz nos cinemas comerciais de 40 cidades ao mesmo tempo em que era exibido gratuitamente em praças e comunidades do interior. O longa agora chega ao YouTube de forma gratuita em uma ruptura com a lógica concentradora do mercado audiovisual, que se restringe aos centros urbanos e às vitrines pagas do streaming.
 

🎬 Filme completo gratuito: Link
Opção com Audiodescrição: https://youtu.be/DEZZ7_QIBo8
Opção em Libras: https://youtu.be/3ILB4UrQLxE

O Capitão Astúcia já emocionou mais de 180 mil espectadores e em sua jornada quixotesca percorreu cidades pequenas, comunidades afastadas, escolas e lares de idosos. Exibições públicas, muitas vezes ao ar livre, marcaram o tom da proposta — um filme que se entrega ao público e que quer ser visto por quem nunca se viu nas telas.

“Não queremos restringir essa história a quem pode pagar ou mora perto de um shopping. Queremos que qualquer pessoa com internet tenha a chance de ver Capitão Astúcia, de se emocionar, rir, lembrar da própria família”, afirma o diretor Filipe Gontijo, que também é sócio-fundador da Papai Pequeno Filmes, distribuidora do longa.

Heróis que enxergam o país

Enquanto os lançamentos hollywoodianos miram o topo da bilheteria e ocupam prioritariamente salas das grandes redes, Capitão Astúcia se constroi ao avesso: como um cinema que olha para o Brasil de verdade. A crítica que correu pelas redes sociais de salas de cinema e de espectadores do interior do país, deixados de fora do relançamento de filmes como Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith, reforça o abismo de acesso que ainda separa o público da experiência cinematográfica.

Capitão Astúcia não disputa orçamento com os Thunderbolts — mas disputa atenção, sensibilidade e o direito de ocupar a tela grande (ou pequena) com histórias que nos representam.

Sobre o filme

Na trama, o veterano ator Fernando Teixeira interpreta um idoso, ex-letreirista de cinema, que aos 80 anos decide se tornar super-herói. Ele arrasta o neto (Paulo Verlings), um pianista frustrado, numa aventura transformadora. A atriz Nívea Maria brilha no papel de Dulcinéia, o amor platônico do heroi quixotesco. O longa trata de afetos familiares, envelhecimento e sonhos tardios com leveza, humor e uma brasilidade rara no gênero.

Democratização e acessibilidade

Com versões no YouTube com audiodescrição e Libras, Capitão Astúcia deixa sua proposta clara: se ver na tela é um direito. “Lançar esse filme no YouTube é mais que generosidade: é um ato de resistência cultural. É colocar a história nas mãos do público, romper com as regras que favorecem Hollywood e lembrar que cultura é um bem comum”, conclui Gontijo. Capitão Astúcia chega ao Youtube pela contramão: por se recusar a ser elitizado, inacessível ou protocolar. É um filme que acredita que a cultura não deve se limitar a quem pode pagar ou vive perto de um shopping center.

“Essa história só faz sentido se for compartilhada com o maior número de pessoas possível. Queremos emocionar, fazer rir, lembrar a todos que o afeto também é um superpoder. E que o cinema brasileiro é feito para ser visto, sentido e celebrado por todo mundo”, conclui o diretor Filipe Gontijo.

Via: Relações Públicas – Capitão Astúcia

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Diário de um Surdo – 017: Ainda falta escuta

E no meio de tanta correria, o silêncio tenha falado mais alto do que eu, e tenho me afastado, ficando calado e distante. Afinal o cansaço bate.
Mas hoje, volto aqui. Porque tem coisa que não dá pra engolir calado.

A gente comemorou 23 anos da Língua Brasileira de Sinais, na última semana, dia 22/04. Sim, comemorou. Mas será que tem tanto assim pra comemorar?

Não me entenda mal: reconhecer Libras como língua oficial foi um passo gigante. Mas e o resto do caminho? Porque, sinceramente, ainda falta escuta. Ainda falta empatia. Ainda falta humanidade.

Ser surdo, hoje, no Brasil, ainda é viver entre paredes invisíveis. Em filas onde ninguém sabe se comunicar. Em atendimentos que não atendem. Em espaços que não te enxergam. E isso não é só falta de estrutura. É falta de vontade. De consciência. De responsabilidade.

E, pra ser bem direto: cansa. Cansa demais. Porque não é só uma luta por acessibilidade, por inclusão. É uma luta contra a indiferença. Contra a burocracia. Contra o descaso.

Às vezes, a gente sente que as pessoas ganham a gente pelo cansaço. E isso dói. Porque a luta é diária, é pesada — principalmente dentro dos grandes ambientes de trabalho, onde tudo depende de alguém “lá de cima” comprar a ideia. E se não tem alguém que encabece, a ideia morre. Não por falta de valor. Mas por falta de apoio. De coragem. De visão.

E hoje, eu confesso: estou num estado triste. Decepcionado.
É um sentimento pesado que tenho carregado no peito. Porque por mais que eu lute, por mais que eu tente construir pontes, parece que elas desabam antes mesmo de alguém atravessar.

E mesmo assim, eu sigo. Porque acredito. Porque, mesmo cansado, eu sei que tem alguém precisando de um gesto, de uma palavra, de uma mudança — por menor que seja.

Quando falo de responsabilidade, falo de verdade. Falo de ESG com E maiúsculo de empatia. Falo de empresas que não só assinam compromissos, mas cumprem. De serviços públicos que acolhem, que adaptam, que se importam. Porque inclusão não é favor. É direito.

E se tem uma coisa que eu aprendi nesses anos de caminhada é que a mudança começa quando alguém decide não se calar. Hoje, eu escrevo porque me recuso a aceitar que o tempo passe e nada mude. Porque a Libras merece mais do que homenagens uma vez por ano. Ela merece presença. Merece política. Merece gente comprometida com gente.

E se você leu até aqui, fica meu convite: escute. Não com os ouvidos, mas com o coração. Porque ser surdo nunca foi sinônimo de silêncio. A surdez fala. A questão é: você está disposto a ouvir?

Leia também: O som e o silêncio


Diário de um Surdo – 016: O som e o silêncio

Você já sentiu aquele cansaço que não é físico, mas parece que pesa no corpo inteiro? Pois é… O cansaço auditivo faz isso comigo.

Depois que fiz o implante coclear, minha relação com o som mudou completamente. Antes, o silêncio era meu companheiro constante. Agora, o mundo é barulhento… e, às vezes, ele me esgota.

Imagem: Reprodução

Já teve dias em que cheguei em casa e só queria desligar tudo. E eu realmente posso fazer isso. Posso tirar o processador e voltar ao silêncio absoluto. Parece um privilégio, né? Mas nem sempre é. Porque o silêncio também tem seu peso.

Mas, afinal, o que é esse cansaço auditivo?

Imagina um celular rodando vários aplicativos pesados ao mesmo tempo. O processador esquenta, a bateria vai pro espaço e, se você não der uma pausa, ele trava.

Comigo, é tipo isso. O implante me permite ouvir, mas meu cérebro precisa interpretar esses sons o tempo todo. Isso exige esforço. Agora, soma isso ao barulho do trânsito, música alta, várias pessoas falando ao mesmo tempo… É como se minha mente ficasse em sobrecarga. E, cara, às vezes isso dói. Não é uma dor física, mas uma exaustão mental que me deixa sem energia até pra conversar.

E quando ninguém entende?

O pior é quando as pessoas não percebem. Já ouvi coisas do tipo:

🗣️ “Nossa, mas agora você escuta, né?”
🗣️ “Você tá cansado de quê?”
🗣️ “Mas você tá de aparelho, não é só aumentar o volume?”

E eu fico tipo… respira, Thiago, respira. O implante não é um fone mágico que transforma tudo em áudio perfeito. Ele me ajuda muito, mas tem dias em que eu preciso de um respiro.

Como ajudar alguém que passa por isso?

Se você conhece alguém com implante ou aparelho auditivo, aqui vão algumas dicas:

Entenda que cansaço auditivo existe! Se a pessoa diz que está exausta, respeite.
✅ Dê espaço para pausas. Às vezes, um tempo no silêncio faz toda diferença.
✅ Se for conversar, fale de frente, sem gritar. O esforço pra entender já é grande.
✅ Não force a barra. Se a pessoa quiser ficar quieta, tá tudo bem.

E se você também passa por isso, me conta nos comentários: como você lida com o cansaço auditivo? O que te ajuda a recarregar as energias?