Há pouco mais de um ano eu ativei o meu implante coclear. Um ano de redescobertas, sustos, risadas e – principalmente – sons. Muitos sons.
Alguns eu já conhecia, mas agora chegam com outra textura. Outros… são completamente novos. E se tem uma coisa que eu nunca vou esquecer nesse primeiro ano, são os sons agudos.
Eu nunca escutava os sons agudos antes. Não sei explicar direito… às vezes parecia que eu ouvia, mas eram diferentes.
Agora, eles chegam de um jeito estridente, atravessam. Sabe aquele som que entra direto no cérebro, como se cortasse o ar? É isso. No começo, parecia que o mundo tinha ligado um monte de microfones no último volume.
Os passarinhos, por exemplo… antes eu achava que eram delicados, suaves. Hoje eu sei a verdade: eles gritam. MUITO.
Tem hora que parece sirene de carro disparando, vários alarmes ao mesmo tempo. É surreal.
Eu escuto e penso: “Gente, como ninguém tá se incomodando com isso?”
Às vezes me lembro daqueles desenhos do Pica Pau, quando os filhotes gritavam tanto, mas tanto, que perdiam o fôlego. É mais ou menos essa a sensação que tenho com os passarinhos agora.
Apesar dos sustos e da adaptação, é incrível perceber tudo isso. Eu tô ouvindo coisas que nunca ouvi antes. E não é exagero. Eu realmente nunca ouvi esses sons.
O implante me colocou num novo mundo. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente. Mais nítido. Mais cheio. Às vezes mais barulhento do que eu gostaria.
Mas é isso: 1 ano depois, continuo descobrindo, me adaptando e me surpreendendo. Ouvir é uma construção. E cada dia é um tijolinho a mais.