Muita gente ainda acha que o intérprete de Libras é só alguém que “traduz” o que outra pessoa fala. Mas a verdade é que o trabalho vai muito além disso. O intérprete é um elo entre duas línguas e duas culturas diferentes: a Libras e o português. Ele é quem torna possível a comunicação entre pessoas surdas e ouvintes, com respeito e fidelidade às duas partes.
Ser intérprete não é apenas saber sinais. É entender o contexto, o tom, a emoção e a intenção de quem fala. É ajustar o ritmo, escolher a melhor forma de expressar uma ideia e, muitas vezes, tomar decisões rápidas para que a mensagem não se perca.
Cada situação é um desafio diferente. Interpretar uma palestra não é o mesmo que interpretar uma entrevista, uma aula ou uma peça de teatro. O intérprete precisa estudar o tema, se preparar e se adaptar. Além disso, ele segue um código de ética que envolve confidencialidade, imparcialidade e respeito às pessoas envolvidas.
O trabalho do intérprete de Libras é essencial para garantir acessibilidade comunicacional. É ele quem permite que pessoas surdas participem de eventos, reuniões, aulas e momentos importantes da vida. Mas, muitas vezes, esse profissional ainda é invisível aos olhos de quem não precisa dele.
Reconhecer o valor do intérprete é também reconhecer o direito das pessoas surdas à comunicação plena. Inclusão de verdade não é ter um intérprete “só pra cumprir exigência”. É entender que sem ele, a conversa simplesmente não acontece.
Como pessoa surda, eu sei o que significa estar em um lugar com e sem intérprete. Quando tem, a sensação é de pertencimento. É poder acompanhar, entender, rir junto, participar de verdade. Quando não tem, é o contrário: a gente se sente isolado, perdido, fora da conversa. Não é só falta de informação — é falta de presença.
A presença do intérprete não é um favor, é um direito garantido por lei. A Lei nº 10.436/2002 reconhece a Libras como meio legal de comunicação e expressão, e o Decreto nº 5.626/2005 obriga o poder público e instituições a garantir acessibilidade por meio de intérpretes, especialmente em escolas, serviços públicos e eventos oficiais.
Mesmo assim, ainda vemos muitos espaços que ignoram essa obrigação. Por isso, é importante cobrar das autoridades o cumprimento desses direitos. Garantir intérpretes onde há surdos é garantir igualdade de acesso, respeito e cidadania.
Porque inclusão não se pede por gentileza — se exige por direito.