Palavras registradas


Amo trazer histórias, e vocês sabem né?

Quem me acompanha por aqui entende a minha necessidade de trazer fatos, acontecimentos e desabafos. Em 9 anos de registrei bastante palavras de dor, de alegria, de fé e esperança.

Trouxe entrevistas, mas não tinha trazido ainda a história de alguém da minha família, e perdi essa, ou quase.

Gabriel, um conhecido, amigo da nossa família entrou na frente e registrou a entrevista da minha tia Joaninha, no qual vou reproduzir na integra por aqui, e quero convida-los a irem lá no site e estar por dentro de novidades do mundo da Libras. Eu amei cada cantinho.

“Joana Perné, de 53 anos, brasileira, goiana, formada em Letras Libras pela UFSC e atualmente professora de Libras no Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento das Pessoas com Surdez, CAS/Goiânia e surda oralizada.

     Joana, você é surda de nascença ou aconteceu algo depois?

  • –  Minha família tem perda auditiva hereditária (avô, pai, irmãos). Nossa perda veio com o passar do tempo. Quando eu tinha mais ou menos 5 anos de idade, minha mãe percebeu que eu não estava ouvindo. Ela me levou ao médico e descobriram que eu perderia a audição à medida que eu fosse ficando mais velha. Eu me lembro de com 12 ou 14 anos de idade falar ao telefone. Então desde pequena aprendi a falar e a fazer leitura labial, graças à incrível ajuda da minha mãe. A ajuda dela foi essencial no meu processo de aprendizagem escolar. Atualmente minha perda auditiva é considerada severa, cerca de 80%.

     Como você aprendeu Libras?

  • –  Depois de um tempo que me tornei Testemunha de Jeová, conheci o trabalho que elas faziam com os surdos. Com o tempo, passei a fazer parte deste grupo e foi lá que aprendi Libras.

     Como você se vê dentro da comunidade surda?

  • –  Como surda oralizada. Aceitei a identidade. Mas isso não foi desde o começo. Aprendi Libras quando já tinha uns 33 anos. Antes eu trabalhava como empregada doméstica, mas essa foi uma fase muito difícil por que não conseguia me comunicar direito com os meus patrões. Por não ouvir, eu fazia muito barulho ao limpar a casa, e isso os incomodava. Também não conseguia ouvir a campainha tocando ou o choro das crianças. Depois de um tempo, eu passei em um concurso como professora mas como não conseguia ouvir os alunos, o grupo gestor me colocou na Biblioteca. Eles eram gentis e amigáveis comigo, mas ainda assim era muito difícil o trabalho. O grande problema era a comunicação. Depois de um tempo, fiquei sabendo de uma escola especial que tinha alunos surdos e que precisava de uma professora. Embora resisti no começo, encarei o desafio e, ao mesmo tempo que lecionava, também aprendia Libras.

     Como é sua comunicação na família, no trabalho e no seu cotidiano?

  • –  Na minha família, nos comunicamos a maior parte do tempo através de leitura labial. Mas é claro que com meus familiares que sabem Libras ou os que são surdos, usamos os sinais. Visto que sou professora de Libras, no trabalho sempre uso a língua de sinais, e no meu cotidiano, na maioria das vezes, utilizo a Libras também.

     Tem algo que você deseja para o futuro da Libras e para o futuro dos surdos?

  • –  Posso dizer que hoje a língua de sinais é muito importante para mim. Meus familiares e meus amigos que sabem Libras me ajudaram muito no meu dia a dia. Por isso, desejo que a Libras seja reconhecida como língua pela sociedade, que todos os surdos possam desenvolver a comunicação através da Língua Brasileira de Sinais (L1) e que seus familiares também aprendam a Língua de Sinais.”

O site é o Libraria. Vamos conhecer?


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