A pandemia, os surdos e uso de máscaras

Encontrei uma matéria super legal sobre o uso das máscaras e as dificuldades que nós surdos encontramos. Gostei muito, pois é um assunto que já falei no Instagram e ainda sofro. Espero que gostem:

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

Sei que sou surda desde os 10 anos, quando recebi o diagnóstico, mas foi durante a pandemia do coronavírus que entendi o que realmente significa essa perda auditiva — moderada de um lado, severa do outro. Explico: não entendo todos os sons com clareza e sempre dependi da leitura labial para me comunicar. Como nos últimos meses as bocas estão sempre cobertas por máscaras, a comunicação ficou comprometida.

Se até o início deste ano eu pensava que a deficiência fazia apenas com que eu ouvisse um ou dois tons mais baixo, agora percebi que mal consigo distinguir uma palavra da outra só pelo som. Sem poder ler os lábios, fui desenvolvendo outras técnicas para me comunicar. Tive que reaprender a ser surda 13 anos depois do diagnóstico.

Nos primeiros sete meses de pandemia, só saí de casa para ir ao mercado. Acabei decorando a ordem das perguntas no caixa: “Precisa de sacola?”, “CPF na nota?” e “débito ou crédito?”. Já aconteceu de responder “débito” para a pergunta da sacola, mas tudo bem. No Uber, é mais complicado: além de sentar atrás do motorista e não conseguir fazer leitura labial nem pelo retrovisor, já que ele está de máscara, entram em cena todos os barulhos do trânsito de São Paulo. Tem que pedir para repetir, repetir de novo, até entender. Em um café ou restaurante, a mesma coisa, principalmente quando outras pessoas estão conversando no local.

Esse é um problema que eu compartilho com 466 milhões de pessoas que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), têm perda auditiva.

Paula Pfeifer, autora do livro “Crônicas da Surdez” e criadora do projeto Surdos Que Ouvem, me contou que são incontáveis os relatos de perrengues que ela ouviu desde março de outras pessoas surdas como nós — alguns bem mais sérios do que não conseguir pedir um café. “E profissionais de saúde que se viram sem entender os pacientes, professores sem entender seus alunos, e por aí vai”, diz. “Além disso, tem um desconforto físico: quem usa aparelho e óculos, agora precisa que a orelha sustente a máscara. É muito, muito ruim”, diz Paula Pfeifer, autora do livro “Crônicas da Surdez” De fato: o elástico da máscara engancha com frequência no aparelho auditivo e chega a incomodar a orelha.

Alternativas são mais caras


Imagem: Pryscilla K./UOL

Há dois meses, publicamos aqui em Universa uma entrevista com a diretora Benedita Casé Zerbini, que também é surda. Ela me falou sobre o misto de vergonha e preguiça de pedir para alguém repetir o que disse — o que eu também sinto, especialmente a parte da preguiça. Mas falou, também, sobre a importância de explicar para as pessoas próximas como elas podem facilitar essa comunicação; no meu caso, falar da forma mais clara possível e sempre de frente para mim, além de repetir se for necessário. Uma alternativa à qual Benedita e outras pessoas surdas estão recorrendo durante a pandemia é a máscara transparente — parecida com a comum, mas feita com material que permite que a pessoa surda faça a leitura labial.

Essa, aliás, é a recomendação das autoridades. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo reconheceu que “a expressão facial é parte da comunicação” e confirmou que as máscaras com visor podem ser usadas em todas as situações em que o uso de máscaras é indicado. O Ministério da Saúde, por sua vez, confirmou que a “máscara inclusiva” é uma alternativa para os surdos durante a pandemia.

Em uma busca rápida na internet, no entanto, é notável que a versão transparente tem preço mais alto: enquanto o preço da versão comum, de tecido, gira em torno de R$ 10, a máscara transparente mais barata que encontrei custava R$ 30. As poucas opções disponíveis por menos que isso são importadas de fora do Brasil e demoram alguns meses para chegar. Uma solução foi proposta pela Secretaria Municipal de Saúde, por e-mail: “A máscara pode ser confeccionada pelo próprio usuário, podendo ser de pano ou de outro material, conforme as orientações da Anvisa”.

Eu ainda não testei, mas Paula Pfeifer me contou que essas máscaras transparentes nem sempre funcionam: “Recebi inúmeras de presente durante a pandemia mas não me adaptei a nenhuma. Elas embaçam, esquentam, e eu não consigo respirar direito com aquele plástico. Mas são a única solução até agora”. Se antes do vírus e das máscaras, quem tem perda auditiva tinha que se adaptar evitando um bar com luz baixa e música alta, por exemplo, agora os desafios são maiores. E, entre a vontade de socializar (com segurança, claro) e o trabalho de pedir para o interlocutor repetir ou falar mais alto, muitas vezes opto por não interagir, e acredito que outros surdos façam o mesmo, pelo menos enquanto.

Matéria repostada na íntegra do Universa UOL.

Pessoas com deficiência e a discriminação no Mercado de Trabalho

Ontem (13) foi comemorado o Dia Nacional do Cego, mas será que há motivos para celebrar? O preconceito é sentido pela pessoa com deficiência, principalmente no mercado de trabalho. Apesar dos esforços atuais realizados por diversas empresas, ainda há um longo caminho para se adequar e se educar para a total inclusão do PcD. Segundo dados obtidos pelo Oldiversity, estudo realizado pelo Grupo Croma, 71% dos PcDs entrevistados acreditam que as empresas têm preconceito em contratar pessoas com deficiência e 32% já sofreram preconceito por apresentar alguma deficiência. 

A inclusão da Pessoa com Deficiência no mercado de trabalho – Direito Diário
Foto: Reprodução

Em época de Natal, o mercado varejista nacional não está pronto para atender pessoas com deficiência. Sentem falta de estrutura nas lojas, além de produtos e serviços voltados à pessoa com deficiência. Há um gap no mercado, uma grande oportunidade que não está sendo considerada pelas marcas, ou seja, estão deixando definitivamente de olhar com atenção para necessidades reais para este público. 

A pesquisa ainda mostra que 63% dos entrevistados com deficiência acreditam que as marcas deveriam investir em lojas planejadas para PcDs, mesmo percentual afirma que as marcas deveriam investir em lançamento de produtos e serviços para PcDs. Lojas e comércios sem rampas de acesso e banheiros adaptados para PcDS, chão sem sinalização e piso tátil para cegos, elevadores com mais espaço para cadeirantes, falta de audiodescrição são algumas das milhares de reclamações emitidas diariamente em sites como o Reclame Aqui.  

No que se refere a propagandas, 54% dizem que as marcas deveriam investir em propagandas feitas para PcDs e 40% acreditam que as marcas estão se adequando para atender as PcDs. 

Para Tuca Munhoz, ativista pelos Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência e consultor especializado em acessibilidade, o que mais chama a atenção na pesquisa foi o percentual mais baixo de todos, onde 32% de pessoas com deficiência relatam terem sofrido algum preconceito em razão da deficiência. “Por que as barreiras que impedem o acesso e a acessibilidade das pessoas com deficiência não são vistas como preconceito e discriminação? São vistas, na verdade, como um problema estritamente técnico. A falta de uma rampa seria um problema técnico ou resultado político e histórico de como e para quem são construídas as cidades?  Se nos apresenta esse grande desafio, que é a tomada de consciência de todas as pessoas com deficiência, de qualquer deficiência, de que o seu não acesso ao mercado de trabalho, ao consumo, aos transportes, etc. é discriminação, é preconceito sim”!, finaliza o consultor. 

Ranking das marcas – PcDs

Para as PcDs, os segmentos de cosméticos, moda, entretenimento e bancos são os mais associados a diversidade. 52% afirmam que os segmentos de cosméticos, beleza e higiene pessoal são os mais associados à diversidade pelas PcDs, seguidos de confecção e moda (25%), entretenimento e rede sociais (20%), alimentos e bebidas (19%) e bancos, financeiras e seguradoras com (14%). 

Natura foi a mais associada a diversidade pelas PcDs com 30%, O Boticário foi a segunda marca mais associada com 25%, C&A com 12% e Avon (10%). 

O Grupo Croma ouviu 2032 entrevistas realizadas entre 23 e 31 de julho de 2020, cotas desproporcionais por idade e cotas específicas, considerando gênero, raça, orientação sexual e PcDs, população Brasil, 16 anos ou mais, classes ABC, com cotas por região geográfica. Margem de erro de 2 p.p. para a amostra total, considerando nível de confiança a 95%. Os resultados foram ponderados para representar a população brasileira das classes ABC.

Release: FB Assessoria

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